Da união à vida após a morte
Artigo de Ricardo Rubim
Sabemos que a Umbanda é diversa, portanto, plural em suas vertentes e suas fundamentações. Mas nem por isso deixa de ser Umbanda. Entretanto, alguns ainda agem de forma sectária, afirmando o que é e o que não é Umbanda, isolando-se, defendendo até mesmo com intolerância a sua verdade, demonizando o outro. Acredito que até sem intenção. Mas o fato é que o fazem.
Aprendi que em toda crença existem os que contribuem e os que limitam. Minha matéria é limitada, fadada ao tempo e à exposição desse tempo na imaterialidade que sou. Porém, meu espírito é eterno e não procuro poder ou grandiosidade, pois minha matéria não é perene. Entretanto, o Deus que sirvo é ilimitado e consciente da consciência que me dá: imaterial, imaculada; e a compreensão do próximo, respeitando, sentindo e visualizando-o como a mim mesmo. É dado ao ser vivente a compreensão de que não existe uma hierarquia material entre os seres humanos. Todos somos iguais em nossas dores, amores e sentimentos.
Então, não somos perpétuos, pois o grande nivelador universal é a morte e, nela, por ela e com ela, inequivocamente, seremos sempre iguais. Sejamos doutores, mestres ou professores, assim como imperadores ou árbitros que detêm a vida dos seres humanos, em toda e qualquer forma, a morte sempre será, sem dúvidas, o grande nivelador universal. Cada um marcando no porvir o mérito ou depreciação do que fez em vida.
Portanto, já é tempo de pensarmos mais, tempo de raciocínio lógico e razoável, tempo de darmos as mãos por um objetivo concreto, objetivo da dignificação das religiões, com ênfase na Umbanda e nas religiões de matrizes africanas, que têm sofrido muita discriminação, uma vez que, em qualquer de suas vertentes, pregam os maiores dos ensinamentos que são o amor, a caridade e a solidariedade.
Discutir forma e ritos é cair no vazio. Sabemos que tanto o continente como o conteúdo se completam, e, assim, é a Umbanda em sua diversidade. E não é diversa por acaso. É tão diversa como a natureza, e, se cultuamos a natureza, diversos somos e seremos.
Como exemplo, cito a Comissão de Combate a Intolerância Religiosa (CCIR), criada por seguidores da Umbanda e do Candomblé, em virtude das perseguições sofridas, principalmente na Ilha do Governador, contra os terreiros, praticadas por marginais. Imediatamente, juntaram-se à Comissão a Polícia Civil do Rio de Janeiro, o Ministério Público, a Comunidade Judaica, mulçumanos, ciganos, católicos, kardecistas, evangélicos, maçons, wiccanos, entre outros, cujo objetivo concreto é mostrar à sociedade que somos religiosos e nossos templos não podem e não devem ser depredados. Nossos sacerdotes, seguidores e adeptos não podem ser perseguidos em virtude de suas crenças. E lá na Comissão que o respeito se transforma no pilar para a solidez de um grupo tão forte. Se é possível com os membros da CCIR, por que, então, não podemos expandir esta forma de tratamento?
É hora de união, reconstrução, rever conceitos e de fazer.
José Carlos Leite Godinho é Membro Fundador da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) e da Tenda dos Pretos Velhos, com fundamentação no Omolocô
Artigo editado por Ricardo Rubim
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